Depois do sucesso de Stellar Blade no PlayStation 5, a versão para PC do game foi lançada agora em junho e também se tornou um fenômeno, ultrapassando a marca de 1 milhão de cópias vendidas. Para entender os bastidores do port e conhecer mais sobre o futuro da franquia, o Voxel conversou com Hyung Tae Kim (diretor criativo) e Lee Dong Gi (diretor técnico) do estúdio Shift Up.
Na entrevista, os desenvolvedores comentaram desde os desafios técnicos da adaptação para computadores até questões polêmicas envolvendo a protagonista, Eve, frequentemente citada nas discussões sobre sexualização em jogos. A equipe também confirmou que está ciente da onda de mods de conteúdo adulto que estão chegando ao game no computador.
Além disso, o diretor do jogo revelou interesse em colaborações com outras franquias, como Bayonetta, Final Fantasy e Clair Obscur: Expedition 33, e deu pistas sobre como pode ser uma possível continuação da história. Confira mais detalhes a seguir!
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Sexualização e liberdade criativa em Stellar Blade
Desde que deu as caras no mercado, Stellar Blade foi alvo de polêmicas por causa da aparência da protagonista Eve. Para Hyung Tae Kim, o debate sobre a sexualização da personagem é legítimo, mas ele defende que o estúdio permaneceu fiel à sua própria identidade visual. Segundo ele, a tentativa de agradar todos os públicos pode levar a um mercado de jogos “sem cor”, e Stellar Blade foi criado com a intenção de ter uma assinatura própria e provocadora.

O diretor acredita que a indústria precisa ser mais tolerante com propostas diferentes, mesmo quando causam polêmica. “A sociedade parece valorizar as diferenças, mas também se tornou mais rígida com elas”, comentou. A resposta evidencia um posicionamento firme sobre a liberdade criativa, ao mesmo tempo em que reconhece que todas as críticas merecem respeito.
“Quanto ao design, ouvimos diversas opiniões, mas fizemos o possível para permanecer fiéis ao nosso estilo” – Hyung Tae Kim, diretor de Stellar Blade.
Apesar das reações divididas, Kim afirma que a equipe não cedeu às pressões externas: o design da protagonista foi mantido conforme a visão original do estúdio, algo que ele considera essencial para manter a autenticidade da obra.
Adaptação para PC e comunidade de mods
A equipe também forneceu detalhes sobre a chegada do jogo no PC e a comunidade aquecida de mods. Do ponto de vista técnico, Lee Dong Gi explicou que o maior desafio foi adaptar o jogo para uma enorme variedade de hardwares e drivers de PC. O estúdio otimizou Stellar Blade para funcionar bem tanto em máquinas potentes quanto em dispositivos como o Steam Deck, com suporte a monitores ultrawide, personalização de teclas e tecnologias como DLSS 4 e FSR 3.

A equipe também está ciente da movimentação da comunidade de mods, inclusive as modificações com conteúdos adultos. Embora não haja planos para coibir esse tipo de criação, os desenvolvedores recomendam cautela, já que alterações não oficiais podem causar problemas no desempenho ou compatibilidade após atualizações.
O diretor do jogo também revelou que possui um mod favorito de Stellar Blade. Hyung Tae Kim destacou com carinho uma criação que permite invocar permanentemente a personagem Doro, antes disponível apenas em uma missão secundária. Segundo ele, mesmo quando o mod atrapalha algumas cutscenes, a adição traz um toque divertido e carismático ao jogo.
O futuro de Stellar Blade
Questionado sobre uma possível sequência, Hyung Tae Kim admite que o enredo do primeiro jogo recebeu críticas e que criar uma boa história em um jogo de ação é mais difícil do que imaginava. Ainda assim, ele não descarta continuar a saga. “Gostaria de contar uma história mais simples, mas será que dá para tratar com leveza os rumos dos personagens? Não sei”, disse, rindo.
Além disso, o diretor revelou que o sistema de combate — um dos aspectos mais elogiados do jogo — pode passar por mudanças interessantes no futuro. A equipe está trabalhando em novas ideias para surpreender os jogadores, ainda que os detalhes estejam sendo mantidos em segredo.
“Adoraria ver algo relacionado a Clair Obscur: Expedition 33, que tenho curtido bastante ultimamente; Bayonetta, minha musa eterna; e Final Fantasy”
Outro ponto que anima os fãs são as possíveis colaborações com outras franquias. Kim citou títulos como Bayonetta, Final Fantasy e até mesmo Clair Obscur: Expedition 33 como inspirações e desejos pessoais para futuras participações especiais no universo de Stellar Blade. Além disso, ele também pediu que o público brasileiro dê indicações de personagens que podem combinar com o universo do game.
Confira a entrevista completa
Abaixo, você pode conferir a entrevista completa com os responsáveis por Stellar Blade. O jogo da Shift Up está disponível no PC e PS5, e possui uma demo grátis na Steam.
1. Stellar Blade foi muito elogiado por rodar bem tanto em PCs potentes quanto em dispositivos como o Steam Deck. Do ponto de vista técnico, qual foi o maior desafio ao trazer o jogo para o PC?
Lee Dong Gi: A maior diferença entre consoles e PCs está na variedade de hardware. Consoles são otimizados para uma configuração fixa, enquanto o PC apresenta uma grande diversidade de componentes e drivers. Por isso, dedicamos muita atenção à compatibilidade e à otimização, garantindo que os jogadores possam ter uma experiência ideal independentemente da máquina.
Também fizemos questão de oferecer recursos esperados no PC, como personalização de teclas, compatibilidade com monitores ultrawide e suporte a tecnologias de upscaling, como DLSS 4 e FSR 3.
No caso dos monitores ultrawide, inclusive, retrabalhamos as cutscenes para que se ajustem ao novo formato de tela, preenchendo áreas que antes ficavam cortadas. Já para ambientes como o Steam Deck e outros UMPCs, implementamos ajustes específicos de memória, HUD e layout para melhorar a experiência do usuário.
2. O jogo já vendeu mais de 1 milhão de cópias no PC e se tornou um grande sucesso na plataforma. Como a equipe recebeu essa recepção tão positiva?
Hyung Tae Kim: Ficamos muito felizes, claro, mas também nos sentimos ainda mais motivados para criar um próximo projeto ainda melhor. Com tantos jogos incríveis sendo lançados atualmente, sentimos uma certa pressão por qualidade.
Acima de tudo, somos muito gratos aos nossos jogadores, que são a base que nos permite continuar criando.
3. Uma característica marcante do PC é a presença de mods. Como a equipe está lidando com os “adult mods” criados pela comunidade?
Hyung Tae Kim: Como o jogo já possui classificação etária para maiores de 18 anos, não temos planos específicos para lidar com mods de teor adulto. No entanto, alertamos que o uso de mods pode causar problemas na execução ou no desempenho do jogo, então recomendamos cautela.
Lee Dong Gi: Além disso, se você estiver enfrentando problemas após uma atualização e estiver usando mods, sugerimos jogar o título na versão original, sem modificações.
4. Vocês têm algum mod favorito feito pela comunidade até agora?
Hyung Tae Kim: São tantos mods incríveis que é difícil escolher só um, mas confesso que gostei muito de um que permite invocar permanentemente a Doro, personagem de uma colaboração. No jogo original, ela é uma figura cômica que só aparece em uma missão, mas esse mod foi feito para quem sente saudade e quer tê-la sempre por perto.
Às vezes, ela atrapalha e até bloqueia cenas importantes nas cutscenes, mas acho um mod adorável que dá uma nova cara ao jogo.
5. Apesar da jogabilidade elogiada, Stellar Blade acabou atraindo mais atenção pela beleza da protagonista Eve, o que gerou tanto elogios quanto críticas. Isso incomoda de alguma forma? Acha que o foco visual pode ter afastado quem buscava um jogo puramente de ação?
Hyung Tae Kim: Acreditamos que um mercado onde todos os jogos tentam agradar a todos se torna meio sem personalidade. Esse é o estilo do nosso estúdio, e sentimos que nos saímos melhor com projetos que têm identidade própria. Em um cenário onde a diversidade é importante, esperamos que o mercado de games continue aberto a experiências diferentes — inclusive como a que oferecemos.
6. A sexualização de personagens femininas ainda é um tema polêmico, especialmente no Ocidente. Como vocês encaram essa discussão no contexto de Stellar Blade? Em algum momento houve pressão para suavizar o design da Eve?
Hyung Tae Kim: Não acreditamos que cabe a nós encerrar essa controvérsia. Toda opinião merece respeito. No entanto, sinto que, embora a sociedade valorize reconhecer diferenças, ela também se tornou mais rígida com aquilo que foge do padrão. Pessoalmente, espero que nos tornemos mais generosos e compreensivos uns com os outros.
Quanto ao design, ouvimos diversas opiniões, mas fizemos o possível para permanecer fiéis ao nosso estilo.
7. A história do jogo foi um dos pontos mais criticados por parte dos jogadores. Como vocês veem esse retorno? Em uma possível continuação, o que podemos esperar em termos de narrativa?
Hyung Tae Kim: Aprendi que criar uma história sofisticada em um jogo de ação é um grande desafio. Especialmente porque não conseguimos calcular com precisão o custo de transmitir essa narrativa de forma eficaz.
Se houver uma sequência, gostaria de contar uma história mais simples, mais alinhada com a essência do gênero de ação. Mas será que conseguimos tratar com leveza o que acontece com esses personagens depois? Confesso que não tenho tanta certeza disso. (risos)
8. O sistema de combate foi um dos aspectos mais elogiados de Stellar Blade. Há algo específico que a equipe gostaria de melhorar ou expandir em um eventual segundo jogo?
Hyung Tae Kim: Temos várias ideias em desenvolvimento nesse sentido. Ainda não estamos no ponto de compartilhar detalhes, mas estamos trabalhando para apresentar algo novo — talvez até diferente do que os fãs esperam.
9. Após colaborações com títulos como Nier: Automata e Goddess of Victory: Nikke, podemos esperar mais participações especiais em Stellar Blade? Se pudesse escolher qualquer personagem, quem gostaria de adicionar?
Hyung Tae Kim: Depende do andamento do desenvolvimento, mas se surgir a oportunidade, seria uma honra colaborar com ainda mais jogos.
Falando puramente do meu gosto pessoal, adoraria ver algo relacionado a Clair Obscur: Expedition 33, que tenho curtido bastante ultimamente; Bayonetta, minha musa eterna; e Final Fantasy, que foi a maior referência da minha vida nos games… Mas essa lista pode ir longe!
10. Para encerrar: vocês gostariam de deixar uma mensagem para os novos fãs brasileiros de Stellar Blade e da protagonista Eve?
Hyung Tae Kim: Fico realmente impressionado com a paixão dos jogadores da América do Sul. Espero poder visitar o Brasil um dia e encontrar nossos fãs pessoalmente. Até lá, peço que continuem nos apoiando e fiquem ligados nos nossos próximos projetos. Em especial, se puderem nos dizer que tipo de personagens os brasileiros gostariam de ver, isso seria de grande ajuda!
Lee Dong Gi: Agradeço sinceramente todo o carinho e apoio a Stellar Blade. Espero que vocês aproveitem bastante o jogo, e faremos o possível para entregar mais títulos incríveis no futuro!
E aí, você já jogou Stellar Blade e gostaria de ver uma sequência do game? Comente nas redes sociais do Voxel!
Fonte: TecMundo