Uma região de centenas de milhares de quilômetros quadrados localizada no Atlântico Norte, ao sul da Groenlândia e a leste do Canadá, tem intrigado os cientistas há décadas. Conhecida como “buraco de aquecimento”, ela, na verdade, vem experimentando um resfriamento em suas águas nos últimos 100 anos, o que contraria o padrão de aquecimento do resto do planeta.
Agora, um estudo recente publicado na revista Communications, Earth and Environment fornece uma prova conclusiva e definitiva do que tem sido teorizado há mais de dez anos: o resfriamento das temperaturas da superfície do mar ao sul da Groenlândia é impulsionado pela desaceleração da Circulação Meridional de Revolvimento do Atlântico (AMOC na sigla em inglês).
Essa importante corrente oceânica, que transporta águas quentes superficiais do sul para o norte do Atlântico, está enfraquecendo há pelo menos um século devido principalmente ao aquecimento global e ao derretimento acelerado do gelo da Groenlândia, que adiciona água doce ao sistema e perturba o delicado equilíbrio de densidade que mantém a circulação funcionando.
Comparando temperatura/salinidade com modelos climáticos

Comparando a AMOC a uma correia transportadora gigante, o autor sênior do estudo, Wei Liu, climatologista da Universidade da Califórnia em Riverside, nos EUA, explica em comunicado que dados de salinidade e temperatura podem ser usados para entender a força da AMOC, pois, quando a corrente diminui, menos calor e sal chegam ao Atlântico Norte.
Por isso, a dupla (que inclui o doutorando Kai-Yuan Li) concentrou sua metodologia na análise de um século de dados de temperatura e salinidade oceânica (entre 1900 e 2005), para compensar a limitação das observações diretas da AMOC, que existem há apenas duas décadas. Em seguida, compararam esses registros com quase 100 modelos climáticos diferentes.
“Se você analisar as observações e compará-las com todas as simulações, apenas o cenário de AMOC enfraquecido reproduz o resfriamento nesta região”, afirma Li em comunicado. A análise também mostrou que o enfraquecimento da AMOC está correlacionado com a diminuição da salinidade, indicando que menos água quente e salgada está sendo transportada para o norte.
Quais são as consequências do estudo sofre o resfriamento do Atlântico Norte?

As consequências desse estudo são amplas. Embora ter uma área mais fria dentro de águas oceânicas cada vez mais quentes possa parecer uma mudança benéfica, esse resfriamento regional é capaz de alterar a distribuição de espécies marinhas, afetar as cadeias alimentares e impactar a pesca comercial.
Além disso, o estudo põe fim a um importante debate científico sobre as reais causas do resfriamento. Enquanto modelos recentes apostavam em fatores atmosféricos, como a poluição por aerossóis, a pesquisa não deixa dúvidas de que somente as simulações com a AMOC enfraquecida reproduzem as condições observadas.
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Além dessa descoberta, a metodologia desenvolvida oferece uma ferramenta valiosa para compreender mudanças climáticas de longo prazo. Ao utilizar dados indiretos de temperatura e salinidade para superar a limitação das observações diretas da AMOC, os pesquisadores conseguiram reconstruir um século de variações oceânicas.
A pesquisa reforça a urgência da ação climática. Compartilhe essa matéria e apoie políticas de redução de emissões de gases de efeito estufa. Para saber mais sobre a crise climática, saiba por que cumprir meta de 1°C do Acordo de Paris não evitará aumento do nível do mar.
Fonte: TecMundo