Quando queremos dizer que uma coisa é antiga, geralmente nos referimos a ela dizendo “isso existe desde a invenção da roda”. Utilíssimo, esse objeto onipresente parece ter sempre existido, como se tivesse surgido como um presente dos deuses. Agora, em um artigo recente publicado no The Conversation, um engenheiro aeroespacial diz que a roda não surgiu do nada.
Na verdade, essa invenção que mudou o curso da humanidade passou por um engenhoso processo de tentativa e erro, adaptação e aprimoramento. Usando simulações computacionais, o autor Kai James, professor do Instituto de Tecnologia da Geórgia nos EUA, ele propõe “um caminho provável ao longo do qual a roda evoluiu por meio de uma sequência de grandes inovações”.
O artigo sobre o trabalho original, publicado em outubro de 2024 na revista Royal Society Open Science, explica como James e seus colegas criaram um algoritmo de simulação computacional que gera sozinho um sistema de roda e eixo, testando pequenas variações, selecionando as melhores e aprimorando aos poucos o design.
“Minerando” a origem da roda

O início da busca pela origem da roda foi uma mineração de cobre no sudeste da Europa, em uma região dos Cárpatos onde é hoje a Hungria, por volta de 3900 a.C. Cansados de carregar pesos em túneis apertados, os mineiros da época desenvolveram carrinhos com rolos de madeira, uma adaptação engenhosa do transporte tradicional sobre roletes.
Essa hipótese, baseada em uma teoria de 2015 do professor Richard Bulliet, da Universidade de Colúmbia, se apoia na descoberta de mais de 150 miniaturas de carrinhos de quatro rodas feitos de argila, datadas como as primeiras representações conhecidas de transporte sobre rodas. A inovação incluía soquetes semicirculares na base dos carrinhos para encaixar os rolos.
O ponto de virada — de rolos para rodas — foi confirmado pelas simulações como uma evolução gradual, por meio de modificações naturais pelo desgaste e adaptação a obstáculos. Os algoritmos testaram centenas de formatos, provando que o design clássico roda-eixo oferece a melhor combinação entre vantagem mecânica e resistência estrutural, uma solução ótima para transporte.
Um caminho circular sem começo e sem fim

“De acordo com nossa teoria, não houve um momento preciso em que a roda foi inventada”, escreve James no The Conversation. A roda foi surgindo por meio de melhorias incrementais impulsionadas pela necessidade prática, em um processo parecido com a evolução das espécies e da própria lógica do método científico moderno aplicado em campo.
A narrativa dá então um salto temporal de cinco mil anos, até Paris em 1869, quando o mecânico Jules Pierre Suriray inventou o rolamento de esferas radial para bicicletas. Ironicamente, há aqui uma volta ao princípio dos rolos. Só que, nesse caso, são esferas microscópicas rolando entre o eixo e a roda, em vez de grandes rolos de madeira rolando no chão.
O estudo destaca como é possível alavancar técnicas da ciência do design e da mecânica computacional para descobrir conhecimentos cujas únicas pistas são os artefatos deixados pelos designers originais. Assim como seu formato icônico, a evolução da roda traçou um caminho circular, “sem começo claro, sem fim e com incontáveis revoluções silenciosas ao longo do caminho”, conclui James.
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Fonte: TecMundo