A parceria entre Elon Musk e Donald Trump parecia uma aliança forte, mas ela agora está bastante ameaçada. A atual pessoa mais rica do mundo e o presidente dos Estados Unidos encaram uma crise no relacionamento que pode ser definitivo.
Foram meses de trabalho conjunto, desde a campanha eleitoral de Trump até o envolvimento de Musk com o orçamento do país inteiro. No início, foram só elogios um ao outro, ambos os lados com interesses próprios que incluem influência entre a população e contratos com o governo — o que logo despertou também preocupações sobre conflitos de interesse nessa aproximação.
Só que esse clima era bem diferente do que foi notado no início de junho, quando repentinamente a amizade desmoronou. A seguir, entenda como foi construída essa relação entre Musk e Trump e como ela passou para um barraco de grandes proporções em redes sociais.
O início de uma grande amizade
- A aliança entre Musk e Trump tomou forma na campanha eleitoral de 2024. O bilionário teria gasto mais de US$ 250 milhões (cerca de R$ 1,4 bilhão) em doações para associações envolvidas com o partido Republicano;
- Em um certo momento da campanha, Musk começou a participar dos comícios de Trump, incluindo em discursos e na realização de ‘sorteios’ de prêmios em dinheiro para eleitores comprometidos a votar no pleito, que é facultativo no país. O ato foi acusado de ser compra de votos, mas processos acabaram arquivados;
- Com a vitória de Trump, em novembro de 2024, o bilionário foi confirmado como membro da administração. Ele foi nomeado líder do Departamento de Eficiência do Governo (DOGE, na sigla original em inglês), uma secretaria focada em realizar cortes e otimizações no setor público;

- Já confirmado no DOGE, o empresário participou da cerimônia de posse do presidente em janeiro de 2025 e virou o assunto do evento por uma saudação que remete ao gesto nazista. Além disso, surgiram acusações de que Musk usou a sua rede social, o X, para impulsionar posts de Trump artificialmente.
- Segundo várias reportagens, Musk também passou a atuar como uma espécie de conselheiro de Trump para vários assuntos. Ele se tornou presença constante em reuniões de gabinete e com as secretarias, que equivalem nos EUA aos nossos ministérios;
- Em março, Trump chegou a ajudar Musk na divulgação de carros da Tesla, que foram expostos no gramado frontal da Casa Branca em um momento de vendas em queda da montadora. O presidente ainda disse que compraria um carro da marca;
O trabalho de Musk no governo dos EUA foi cercado de controvérsias. O DOGE iniciou os trabalhos realizando uma série de reduções orçamentárias e demissões, algumas delas revertidas por envolverem funcionários essenciais para o governo. O maior impacto foi no USAID, a agência humanitária que auxiliava comunidades inteiras em outros países.
Além disso, o DOGE teve acesso a dados sigilosos e pessoais de cidadãos norte-americanos, incluindo informações trabalhistas e do seguro social (o equivalente ao nosso CPF). O trabalho de Musk no governo gerou protestos contra o empresário e suas marcas, com direito até mesmo a manifestações e vandalismo contra veículos ou concessionárias da Tesla.
A reputação do bilionário e a aproximação dele com Trump e outros governos de extrema-direita ainda começou a gerar conflitos com o lado empresário de Musk. As vendas da Tesla despencaram e acionistas começaram a demonstrar preocupação com o comportamento do CEO, que estaria dedicando mais tempo às atividades governamentais do que para as suas várias companhias.
Brigas e acusações
No final de maio de 2025, Musk e Trump anunciaram em uma coletiva de imprensa no Salão Oval da Casa Branca que o empresário estava oficialmente deixando o DOGE e o governo como um todo. Ainda naquele momento, o clima parecia amistoso, com ambos fazendo piadas e selando o acordo com um aperto de mãos.
Porém, não demorou para os sinais de desgaste começarem a ficar evidentes. Musk já demonstrava certas discordâncias com Trump por causa de políticas fiscais. O bilionário foi contra o “tarifaço” dos EUA contra outros países — em especial porque vários dos seus empreendimentos dependem da fabricação ou importação de produtos e matérias-primas de outros países e seriam afetados pelas taxas.

Além disso, o CEO da Tesla discordou da nova reforma fiscal promovida pelo presidente. Batizada de “big beautiful bill” (ou “o belo e lindo projeto de lei”, em tradução livre), o planejamento inclui o fim de vários benefícios fiscais e incentivos de compra para carros elétricos — setor que sempre foi bastante criticado pelo próprio Trump.
Musk ainda afirmou que a reforma vai aumentar os gastos do governo e “deixar os norte-americanos pobres”, além de gerar o risco de uma recessão no país. Ele chamou a proposta de “abominação repugnante”, enquanto Trump disse estar desapontado. Ele reclamou que Musk era “ingrato” e estava “louco”.
Após essa troca inicial de farpas, as acusações pela internet ficaram mais intensas na última quinta-feira (5). Usando as redes sociais das quais são donos (a Truth Social, de Trump, e o X, de Musk), ambos iniciaram uma série de postagens acaloradas:
- Musk disse que foi diretamente responsável pela eleição de Trump por sua influência e doações, além de ajudá-lo a ter o controle também na maioria no Senado. Ele ainda sugeriu a criação de um novo partido político no país;
- O bilionário recuperou postagens na rede social, quando ela era ainda chamada de Twitter, que mostram Trump criticando políticas fiscais dos EUA. “Onde está o homem que escreveu essas palavras?”, questionou Musk.
Such an obvious lie. So sad. https://t.co/sOu9vqMVfX
— Elon Musk (@elonmusk) June 5, 2025
- Trump ameaçou cancelar contratos das empresas de Musk com o governo, em especial as missões de transporte de carga e astronautas da SpaceX. “A forma mais fácil de economizar em nosso orçamento, bilhões e bilhões de dólares, é encerrar os contratos e subsídios do governo com Elon. Eu sempre fiquei surpreso que o Biden não fez isso!”, disse;
- Em resposta, o bilionário ameaçou tirar de circulação imediata a cápsula Dragon, envolvida em várias missões da NASA;
- Musk disse que Trump não divulgou os arquivos relacionados ao caso de Jeffrey Epstein, envolvendo abuso sexual e tráfico até envolvendo menores de idade, porque ele mesmo seria citado nesses documentos.
Após esses desdobramentos, há futuro na parceria entre Trump e Musk? No mesmo dia, relatos publicados pelo The New York Times apontam que a relação esfriou de fato, mas os ânimos se acalmaram. Musk respondeu a um seguidor no X que concorda que “somos mais forte juntos do que separados” e ambos devem conversar por telefone para ao menos selar uma trégua.
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Fonte: TecMundo